sexta-feira, 4 de junho de 2010

Um anjo puro malte...

Já era tarde. Noite chuvosa. O bar estava fechando, e eu sentei ao lado de um anjo.
Quem diria que numa noite como aquela, eu iria sentar ao lado de um anjo?

Ele pediu o mesmo que eu, um uísque puro é claro.
Ele não tinha asas; parecia conosco, mas sem o peso que carregamos...

Nunca pude imaginar essas lindas criaturas a beber... Nossos eternos guardiões...
Perguntei-me, por que os anjos bebem?

Acredito que pela nossa sorte precária, pelas nossas renúncias, pelos nossos medos.
Os anjos bebem pela nossa arrogância, nosso orgulho, nossos minutos frágeis destinados ao pó.
" A esses pobres homens." "À morte que os espera." "À esperança que os ilude." São brindes dos anjos. Só o uísque acalma as dores. Os anjos sofrem...

Quanta solidão pode caber no uísque de um anjo, ninguém jamais saberá!

Levarei eternamente na memória meu encontro com o anjo, numa daquelas noites boêmias.
Não me assustei, nem perguntei tolices sobre o Céu ou Inferno. Apenas calei até o momento de convidá-lo para uma bebida. Bebemos como se fossemos velhos conhecidos. Não perguntei sequer o nome dele, mas falei sobre as dores que trazia na alma. Chorei. Depois toquei o ombro do anjo e disse: " Boa noite".
Eu estava bêbado, ele não.
Ele Desapareceu tal qual a poeira de um sonho.
Eu voltei pra casa naquela noite com a paz...

3 comentários:

  1. Texto maravilhoso!!!!
    Espero anciosamente por novas postagens!

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  2. Teus textos lembram muito um momento que vivi, quando as minhas mãos tinham vida própria e escreviam sem parar. Personagens ganhavam vida e personalidade própria. Era divertido, era animador. Me sentia um pouco "deus" em tudo aquilo. Será que isso é ruim? Acho que você sabe muito bem o quanto é bom dar luz e colocar uma história no rumo que queremos. Quanto ao "Um Anjo puro malte" digo que apreciei com muito satisfação em fazê-lo. Sabe aquele tipo de texto que a gente devora? Pois bem, muito bom.

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