quarta-feira, 13 de junho de 2012

Sobre o Estrangeiro

"Hesitei em entrar no bar, pois já ultrapassava as três da manhã, a madrugada estava muito fria e eu docemente ébria como ele me disse algum tempo depois, mas Júlia não me deu outra escolha e entramos. O Catacumbas era o nosso bar preferido, sempre sentávamos ao balcão para ouvir as bandas de jazz e blues que eram a atração do lugar. Mas naquela noite, assim que entramos percebi que havia alguém diferente ao piano, nunca tinha ouvido alguém tocar daquela forma. Ele tocava com um leve desespero, e cantava com uma voz mansa, um sotaque distante que entoava uma melancolia tão sincera que tomou conta de todos no bar.

“É primavera
Curam tristezas
Tudo muda demais por aqui
Por onde é que andaras?
Por onde é que andaras?”

Servi-me de um Martini com olhos vidrados naquele pianista de cabelos cacheados, barba por fazer, blazer preto, jeans rasgado, all star e uma alma que parecia está em pedaços. Os outros estavam em total silêncio. Todos pareciam compartilhar do mesmo êxtase. Júlia também não o conhecia, perguntamos ao barman quem era o estrangeiro, mas ele nos disse que era a primeira vez que o via por ali.

Perto da noite
Longe de mim
E eu mal sei onde estou
Cruzei vilas, me perdi
Além das ruas
Nossa historia não mudou...

Por onde é que andaras?
Por onde é que andaras?”

A canção acabou. A plateia o aplaudiu com os corações apertados e ébrios. Ele se levantou, ergueu um copo discretamente em agradecimento. Foi quando pude ver seus olhos hipnóticos, quase diabólicos. Serviu-se de trago, e saiu do bar com o olhar vazio e sem falar com ninguém. No fim parece que a solidão daquele menino numa terra estranha, longe de casa, estava em todos os que o ouviram naquela noite. Muitos o acharam abrasivo por ter saído daquela forma, mas eu achei lindo, profundo, estranho e perigoso. Pedi mais um Martini e fiquei ali por algum tempo cantarolando; “por onde é que andaras? Por onde é que andaras? Só me diga e eu prometo: esse rio descansará...”."


Texto de Elisa sobre nosso primeiro "encontro".
A música que toquei aquela noite foi Forasteiro, do Thiago Pethit.

Fico me perguntando o que ela faria se soubesse o nosso fim.
"Me mataria ou morreria de amores?"

3 comentários:

  1. Homem louco. Menino só.
    Esse és tu.

    Saudades da tua luz, da tua paz.
    A travessa das flores não é a mesma sem ti.
    Beijos saudosos.

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  2. É primavera
    Curam tristezas ♪

    Feito coisa que é pra desaguar coisa triste, mas não deixa de ser belo.
    Feito coisa que é pra continuar. Perdi o ar!


    Descreva pra mim sua latitude
    Que eu tento te achar no mapa-múndi ♪

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  3. Eternamente.
    É ter na mente.

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